Acho que criámos uma “nova cena” cá de casa – passar o ano novo algures no mundo! As datas funcionam sempre bem porque há feriados e férias escolares metidas pelo meio e com alguma pesquisa até se arranjam viagens a um bom preço!

Porque China e Bornéu?

Porque primeiro arranjámos os voos para Hong Kong de Lisboa num mega deal (~1700€ para os 5) e daí foi pesquisar os voos rápidos e baratos (~360€ para os 5), Kota Kinabalu, Borneo apareceu na lista, estava bom tempo e estava na nossa bucket list há uns anos!

Neste primeiro post conta a história de Hong Kong. O resto virá com o tempo!

Hong Kong

Aterrámos já de noite e quando saímos do aeroporto, no fim de dezembro, fomos abraçados por aquela humidade quente e aquele cheiro típico asiático, que é um género de “mete as especiarias todas que tens num frasco, abana, e já tá”!!

Apanhámos dois táxis para “casa”, porque cada um só dá para 4 pessoas, e nós já somos mais não é verdade!?

(Nota: o Afonso achou que estávamos na Europa e que se podia pagar o táxi com cartão… não se pode tá, é favor de levantar dinheiro antes de sair do aeroporto que uma vez que se saí das portas já não deixam voltar a entrar!)

Ficámos numa casa emprestada de uns amigos de uns amigos na zona de Clear Water Bay – eu chamei-lhe a Cascais de Hong Kong, mas pode também ser as Azenhas do Mar pelo nível de sobe e desce da paisagem! A casa estava colada à praia num bairro familiar muito calmo.

Chegámos de noite e fomos recebidos por um dilúvio chines que encharcou até o interior das malas! Mas para compensar o nosso amigo Andrew levou-nos a um restaurante típico num pequeno porto de pescadores. No nosso chines perfeito apontámos para o bicho que queríamos comer e para a fotografia que mostrava como queríamos o bicho cozinhado. Veio um balde para pôr as cascas, uns pratos lavados provavelmente com água do mar, uma panela de sticky rice e uma garrafa de chá chinês (de sabor muito diferente ao que estamos habituados).

Confesso que tinha muitas saudades dos cheiros, do caos pouco organizado das casas e restaurantes, das famílias debruçadas nos noddles a conversar de boca aberta, até desde chá que sabe a água rança com cenas a boiar. Ahhh saudades desta querida China, apesar de ser Hong Kong!

No dia seguinte, ou noite vá porque eram 4 da manhã quando o meu querido filho mais velho me acordou, vimos o nascer do sol da varanda da “nossa casa”. Nascer do sol soa a uma coisa paradisíaca azul turquesa, mas não foi nada disto porque estava uma neblina gigante sobre a praia que banha a casa.

A vantagem de ter amigos na cidade é que íamos sabendo como estavam as coisas relativamente aos protestos e se era ou não seguro ir para as ruas. Eles são bastante organizados e existem vários sites e páginas onde publicam onde vão reunir-se para manifestar o seu descontentamento com governo. Ao contrário do que os media passam, estes são protestantes pacíficos que muito pouco fazem senão demostrar o seu descontentamento através de cantos e cartazes. O verdadeiro perigo aqui é a polícia, e como dizem os nossos amigos, quando virem polícia fujam porque onde há polícia à gás lacrimogénio certo. Claro que existem aqueles que entram no jogo da polícia com as bombas de gás, não digo que são todos peace and love, mas a violência é instigada pela própria polícia.

Sabendo que era seguro apanhámos boleia até Knowloon onde passeámos e vimos a paisagem mudar do moderno para o tradicional, do rico para o pobre, da chanel e rolex para a chaneli e o rolexy. Andámos quilómetros de Nathan Road, zona de bem, passando pelo Knowloon park, pela zona do famoso night market, pela ladies market (só cenas de bem falsíssimas) e outros lugares que jamais saberei reencontrar. Os miúdos super integrados falavam com toda a gente através de gestos e palavras inventadas. No parque o jogo da apanhada é universal e no meio daquela humidade infernal 6 miúdos, um de cada nação, corriam a gritavam uns atrás dos outros.

Cansados de tanto ver, correr e absorver parámos num café/ restaurante/ foodcourt com imagens (muito importante) e apontámos para algumas que nos pareceram com boa cara. Em 3 minutos tínhamos um pato estranho, uma sopa de cenas e um frango agridoce. O Francesco era o único que tinha direito a comida de casa! Para o Francesco levámos uma máquina de sopas de casa – podem ler tudo aqui.

Da tarde atravessámos para a ilha da Hong Kong no mítico star ferry, pela modesta quantia de 30 cêntimos por adulto. Perdemo-nos entre os arranha-céus e as suas passagens áreas, terminando no culminar da ilha – Victoria Peak.

Um pequeno elétrico levou-nos a pique para o topo da montanha, com as melhores vistas de Hong Kong de sempre. Aqui a humidade já não abundava e estava um frio do cacete porque afinal de contas estávamos em DEZEMBRO!!

Entre sestas perdidas de marsúpios, carrinhos divididos e braços fortes dos pais, destruídos voltámos a casa e fizemos um take-out chinês. Mais uma vez comida a mais e tudo coisas que jamais pensei que os meus filhos comeriam, mas quando a fome aperta “marcha tudo”.

No dia seguinte, dia 31 de dezembro, estavam previstas algumas manifestações no centro, e decidimos depois de ponderar ficar em casa a descansar, apanhar o autocarro para ir visitar o famoso Buddha gigante.

O Buddha gigante fica do outro lado (literalmente) de Hong Kong, na ilha de Lantau, perto do aeroporto.

(Nota: se possível visitem antes de irem apanhar o avião ou quando chegarem porque fica longe para burro do centro).

A viagem foi de uma hora e pouco naqueles autocarros género inglês de dois andares, o que foi bom porque fomos a apreciar as vistas! O autocarro custou à volta de 3 euros por adulto – as crianças só pagam transportes a partir dos 5 anos.

Na base do enorme teleférico que leva até o parque onde está o dito cujo Buddha, há um centro comercial género outlet gigante, mas quando digo gigante é de meter o centro comercial do colombo no chinelo de gigante que é! Foi um erro quando decidimos almoçar aqui, primeiro porque demoramos 27 minutos para chegar à zona dos restaurantes e depois porque demoramos outros 27 minutos para encontrar a saída.

O teleférico, ou Ngong Ping 360, tem duas opções: a cara e a barata; a cara é igual à barata, mas o chão da cabine é de vidro. Nós optámos pela barata, primeiro porque estava nevoeiro cerrado e a diferença ia ser zero e depois porque o Afonso tem vertigens e acho que me mataria se tivesse comprado os bilhetes da cabine chique! (o preço da cabine ralé é de 24€ ida e volta por adulto, e se marcarem no site têm 12% de desconto)

É uma viagem cénica de 25 minutos e a forma mais rápida de chegar ao Big Buddha e ao Po Lin Monastery. Nós tivemos vista durante sensivelmente 5 minutos, o resto foi como estar num filme de terror com duas crianças a dormir, um senhor com vertigens, uma criança aos saltos de um lado para o outro na cabine e eu a ficar enjoada neste processo todo rodeada de nuvens.

Quando FINALMENTE chegámos, não beijei o solo porque com o marsúpio e o Francesco a dormir não dava jeito, porque senão teria beijado (e de língua)!!

No topo da montanha existe toda uma mini aldeia feita para o turista com obviamente um Starbucks, lojinhas de souvenirs, restaurantes e outras formas de capitalizar o local. No final desta rua agitada começa o que interessa: uma avenida de estatuetas budistas chinesas que acaba numa enorme rotunda com saída para a imensa escadaria que vai dar ao famoso Big Buddha e outra pequena e estreita estrada que leva até ao Mosteiro Po Lin.

O Mosteiro Po Lin é dos mosteiros mais bonitos que já vimos. Muito em linha com o género de cores e estruturas que vimos em mosteiros por todo o Japão. Deixo as imagens falam por si.

Depois enfrentámos as escadarias do inferno e com os super poderes dos incensos conseguimos todos subir sem ajudas, todos menos o Francesco que esteve no seu casulo durante toda esta experiência. Dizem que a vista lá de cima é inacreditável, não sei, para mim são boatos, nós só vimos nevoeiro!!

De volta a casa, com banhos tomados e aperaltados fomos celebrar o novo ano com os nossos amigos. O meu desespero de sono era tal que tentei convencer todos a celebrar com os “jamigos” norte coreanos em vez de esperar mais uma hora para os foguetes de Hong Kong. Ainda bem que ninguém prestou atenção porque foi provavelmente das coisas mais tristes que vi na vida – um programa de televisão com vários oficiais, certamente muito importantes, rodeados de sailor moons da vida a fazer a contagem decrescente com o mesmo animo com que eu conto o número de batatas que ponho no saco das compras. E pronto foi isso, depois das tristes 12 badaladas entra uma música popular comunista e voltáram a focar em grande os senhores muito importantes. The End and Happy New Year!

E de repente depois deste cenário constrangedor os fogos de artificio cancelados de Hong Kong foram as luzes mais brilhantes que vimos, todos menos o Francesco que estava, obviamente, no seu quinto sono!

E assim foram os nossos dois dias de Hong Kong, cheios e bons!